quarta-feira, setembro 09, 2009

O Poeta ea Rosa com direito a passárinho

Ao ver uma rosa branca
O poeta disse: Que linda!
Cantarei sua beleza
Como ninguém nunca ainda!

Qual não é sua supresa
Ao ver, a sua oração
A rosa branca ir ficando
Rubra de indignação

É que a rosa, além de branca
(Diga -se isso a bem da rosa..)
Era da espécie mais branca
E da seiva mais raivosa

-Que foi? - balbucia o poeta
E a rosa: - Calhorda que és!
Pará de olhar para cima!
Mira o que tens a teus pés!

E o poeta vê uma criança
Suja, esqualida, andrajosa
Comendo um torrão da terra
Que dera existência á rosa.

-São Milhões! - a rosa berra
Milhões a morrer de fome
E tu, na tua vaidade
Querendo usar do meu nome!...

E num acesso de ira
Arranca as pétalas, lança-as
fora, como a dar comida
A todas essas crianças

O poeta baixo a cabeça
- É aqui que a rosa respira..
Geme o vento morre a rosa
E um passarinho que ouvira

Quietinho todo a disputa
Tira do galho uma reta
E ainda fez um cocozinho
Na cabeça do poeta.



Autor: Vinicius de Moraes

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